terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Sobre vacas...



Uma amiga, Alice (não a do País das Maravilhas, mas mesmo assim uma maravilha de pessoa), me instigou, recentemente, a escrever sobre “vacas”... Não no sentido pejorativo da palavra (que por sinal nem deveria existir!), mas no seu sentido literal, em estado de dicionário na primeira acepção, pois ela se lembrou da minha paixão por esses animais. Aceitei o desafio e seguem, então, algumas reflexões que espero sejam sustanciosas:

1. A primeira que me ocorre refere-se justamente à definição da palavra. Em praticamente todos os dicionários, você encontrará, no sentido primeiro, literal: “Vaca é a fêmea do boi”! Espera... Um ser tão belo, único na sua individualidade, relegado a ser apenas “a fêmea”? E se você procurar boi, não vai encontrar como “o macho da vaca”, mas como: “Animal mamífero artiodáctilo, ruminante, do gênero Bos, da família dos bovídeos”, etc. E nem precisa ser feminista engajada, de desfilar com soutiens na mão, para não perceber o quanto os dicionários e, portanto, as palavras, são machistas – é só vermos a famosa discussão sobre Presidente/Presidenta! Direitos iguais já às vacas!!

2. Já tive uma grande coleção de objetos em que a vaca era o principal elemento: canecas, pratos, bichos de pelúcia, fotografias, prendedor de recados, pijama, calcinha, soutien, adesivos... Eu sempre me identifiquei com esse animal artiodáctilo, invejando sua mansidão no pastar solenemente nos campos... Costumo brincar com meus amigos dizendo que, se eu acreditasse em vidas passadas, eu certamente já teria sido uma vaca: passar oito horas por dia comendo, mais oito ruminando e oito dormindo – eis um sonho de vida! Salientando: quando penso no “ruminar”, penso em sonhos feitos e desfeitos; penso em carícias e desejos, que voam espalhados pelos mugidos...

                                  “Na solidão da noite
                                  uma vaca, uma abençoada
                                  vaca
                                  muge:
                                  o seu mugido é um rio de veludo morno,
                                 voz de mãe e de amante: quente e cariciosa...”
 - Mario Quintana

Vamos comer, ruminar e dormir! 


3. Outra questão: não seria interessante termos uma vida mais saudável? Dizem os estudiosos que uma vaca mastiga em torno de 50 vezes por minuto (Tenho um amigo muito muito querido que mastiga umas 60 vezes por minuto!!), o que a leva – a vaca (!) – certamente, a apreciar muito mais a comida (Mas isso também acontece com meu amigo, que é um excelente apreciador de comida!). Ah! E podem consultar os manuais de zoologia por aí para conferir: dizem que elas bebem em torno de 8,5 litros de água para cada litro de leite que produzem. Não sei a média de uma vaca normal, mas sei que tem umas que dão até 20 litros de leite/dia. Multipliquem por 8,5... Se beber água é saúde, haja saúde em uma vaca!! Por isso, talvez, que elas dificilmente sofram (creio eu) de constipação, prisão de ventre... Todo dia estão lá, belas e felizes, com seus 40-50 kg de esterco bem produzidos...


4. Dizem também que as vacas (pasmem!) têm amigas, e melhores amigas(!), e que quando separadas sofrem de estresse... Isso acontece comigo. Quando me reúno com minhas BFF, e conversamos e rimos e bebemos e comemos e falamos dos homens, me sinto renovada, com a alma e o corpo leves. Inclusive, é possível afirmar que algumas amizades são bem menos estressantes que alguns relacionamentos amorosos.


5. Hoje, assim como alguns relacionamentos amorosos, os objetos que eu colecionava estão no passado ou no lixo... Restaram poucos... Uma pequena vaca francesa de prender recados, que fica na minha mesa de trabalho; um jogo de xícaras para cafezinho, que uso quando recebo amigos; duas ou três vaquinhas canadenses que enfeitam meu presépio no final de ano... Precisamos nos desapegar! As vacas verdadeiras estão aí para provar que andar mais levemente na vida, sem grandes preocupações ou perturbações, é a melhor maneira de se viver! Comer, ruminar e dormir!


Abraços! Seja feliz!


Rosangela Marquezi
Professora de formação e atuação, mas apreciadora de vacas por opção.


Dicas da Sustância



1. Leiam “A história da vaca Glória”! Um conto infantil, escrito por Paul Maar, que conta a história de Glória, que desde criança não queria ser apenas mais uma vaca leiteira... Queria ser uma artista, cantora e bailarina... História lindíssima! Procurem na Internet, caso não encontrem mais o livrinho à venda.


2. Assistam ao filme argentino “Um conto chinês”, de 2011, estrelado, é claro, pelo meu crush cinematográfico argentino, Ricardo Darín! O filme é uma comédia (com toques de humor negro) e parte de uma história verídica: uma vaca que cai do céu (literalmente). Assisti na Netflix! Não fui conferir se ainda está no catálogo! Corre lá!!


3. Leiam “A lei da Fazenda” (1998), romance de estreia da norte-americana Laura Zigman, em que a autora analisa o comportamento amoroso masculino a partir da seguinte analogia: o homem é o touro que sempre procura uma vaca nova... O livro, divertido e irônico, inspirou o filme “Alguém como você” (2001), estrelado por Ashley Judd (Jane) e um outro crush cinematográfico meu: Hugh Jackman (Eddie). Eu assisti em DVD (na década passada!!)! Vale a pena conferir a “Teoria da Vaca Nova”.


4. Ouçam o álbum “Atom Heart Mother”, de Pink Floyd, conhecido como o “Disco da Vaca”. Por que ouvir? Porque tem uma vaca na capa (a Lullubelle III) e porque é Pink Floyd e esse álbum marca uma nova fase da banda!


5. Leiam a prosa poética de “A vaca e o Hipogrifo” (1977), de Mario Quintana, poeta gaúcho de extremo lirismo. Um livro gostoso de ser lido e degustado:

                           “Ora, Maria, o meu mundo é de
                            temperaturas,
                            tensões
                            fulgurações.
                            Eu nada tenho a ver com os sentimentos humanos!
                            Por que que tu não és uma vaca, Maria?
                           Por quê?
                           Ficaria tudo muito mais simples e verdadeiro...”


6. Visitem, ou acompanhem pela Internet, a partir de 26 de abril deste ano (2017), em São Paulo, a 10ª edição da Cowparade Brasil, o maior evento de arte de rua do mundo, em que artistas têm a chance de mostrarem seu talento em uma escultura de vaca, em tamanho natural, feita em fibra de vidro. Informe-se no sítio: <cowparade.com.br>. 



6. Ouçam, por fim, a canção da banda britânica Elbow: “One Day Like This”. Não é sobre vacas, mas tem a expressão “holy cow”, que é boa de usar (algo como um “puta merda” nosso!), e cuja letra, quando ouço, me faz pensar na tranquilidade vivida pelas vacas.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Sobre dias chuvosos...



Sempre tive uma relação amorosa com a chuva. Gosto tanto dela que chego a sentir que faz parte de mim. Acho que ela é mágica e possui diferentes faces. Hoje, enquanto escrevo estas linhas, está calma, fria e cinzenta. E quando de uso dessa face, tem o poder de abrir uma porta imaginária e deixar o passado entrar – como um mágico ser. Comigo sempre acontece isso!

E a primeira lembrança que hoje adentrou por essa porta, foi a dos banhos de chuva de criança... Tempo em que me encharcava sem medo de resfriado, gripe, pneumonia... Doces tempos em que os medos que tínhamos eram, por exemplo, apenas do chinelo da mãe, que aparecia magicamente quando entrávamos em casa em pleno estado líquido.

Outra lembrança a entrar: a da volta da escola em dias de chuva. Eu caminhava próxima às bordas das calçadas, onde a água corre parecendo um riacho, fazendo splash - splashsplash (será esta uma onomatopeia correta?) a cada pisada. E quando passava embaixo das árvores, chacoalhava seus galhos para “chover” mais ainda em cima de mim! Doces tempos em que os rios e tempestades que enfrentávamos eram apenas simulações, improvisações, espetáculos inundados...

Outra: o primeiro beijo que dei em alguém (É claro que lembro seu nome, seu endereço, seu cheiro...) que acreditei amar para sempre. Chovia a cântaros nesse dia (Gosto desta palavra: cântaros, pois me lembra sustância de água!). Era inverno, minha segunda estação preferida, mas dentro do carro seus lábios eram quentinhos, fofos, macios... Doces tempos em que acreditávamos que era possível amar apenas uma única e definitiva vez e mais, que essa palavra – que termina em /ar/ – não rimaria nunca com dor, visto que esta termina em /or/... Quantas vezes é possível amar? Pergunto-me hoje, já muito muito distante desse dia. Confesso que vários outros amores já tive, várias outras dores já tive, mas meu pensamento, em dias como esse, pluvioso, volta e meia teima em lembrar desse primeiro amor. Esperando, talvez, que nos fios de chuva que do céu escapam, ele talvez se (des)enrosque de/em minha vida.

Fechemos a porta. Deixemos a chuva, lá fora, fluir: quieta, mansa e encharcada de passado.

Abraços! Seja feliz!

Rosangela Marquezi
Professora de formação e atuação, mas colecionadora de chuvas por opção.



DICAS DA SUSTÂNCIA


1. Leia o poema “Caso pluvioso”, do grande Carlos Drummond de Andrade, no qual ele nos conta sobre Maria e sua insistência em chover. Um pedacinho: “A chuva me irritava. Até que um dia / descobri que Maria é que chovia. / A chuva era Maria. / E cada pingo / de Maria ensopava o meu domingo. / [...] Ela chovia em mim, em cada gesto, / pensamento, desejo, sono, e o resto. / Era chuva fininha e chuva grossa, / matinal e noturna, ativa... Nossa!”.


2. Assista “Cantando na chuva”, filme de 1952, protagonizado por Gene Kelly, Jean Hagen, Donald O’Connor e Debbie Reynolds. A história do filme se passa em 1927 e retrata como foi a passagem do cinema mudo para o falado. Sem esquecer de citar, é claro, as músicas e danças maravilhosas que fizeram e fazem de “Cantando na chuva” um clássico memorável!


3. Leia (Mas, leia!) “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez – um dos principais autores do Século XX. A história, que retrata a família Buendía e a mítica cidade de Macondo, é permeada de chuva! “Choveu durante quatro anos, onze meses e dois dias. Houve épocas de chuvisco em que todo mundo pôs a sua roupa de domingo e compôs uma cara de convalescente para festejar a estiagem, mas logo se acostumaram a interpretar as pausas como anúncios de recrudescimento.” Mas atenção! Isso é apenas pano de fundo para uma das mais belas histórias escritas por El Gabo!


4. Ouça “This Blue World”, da banda britânica Elbow e se encante.

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Sustância, que tem origem no latim com a palavra substantia (substância) e significa, dentre outros: a parte mais nutritiva dos alimentos, o que é absolutamente indispensável para a manutenção da vida (sustança), destina-se a reflexões “sustanciais”!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Sobre ser gorda...




Recentemente, uma situação me deixou pensativa sobre o fato de estar “acima do peso”, ou simplesmente de ser gorda (Gosto da palavra gorda! Ela me dá a sensação de uso de plenitude labial. Fale a palavra... Ela não parece preencher espaços? Sei lá... Mario Quintana é quem deveria ter escrito sobre isso... Acho que lhe passou batido).

Logo após o Miss Universo (na verdade, antes/durante/depois), transformaram a representante canadense nesse ser: gorda (E eu, como tantas, correndo para o Santo Google para fazer a pesquisa: como ser gorda como a Miss Canadá”)! E, eis que de repente não mais que de repente, as redes sociais se encheram de seres humaninhos dizendo “não é que eu seja gordofóbica, não... Mas é que para esse tipo de concurso não serve! Cadê o 90 – 60 – 90?” E nesse ouvir/ler descobri gente pertinho pertinho de mim com esse padrão estético tão endurecido e feroz.

E pensei cá com meus botões (muito embora, há tempos não use camisas de botão!): se esse ser humaninho acha uma miss canadense gorda, o que deve achar de mim? Cada vez que me olha, o que passa por sua linda e magra cabeça?

Atenção! Não estou me fazendo de coitadinha! Não precisa começar a escrever na minha timeline: “Rô, você não é gorda”. Eu sou. Já fui mais magra (nunca uma miss!), mas hoje sou assim: gorda. E observem que não quero fazer apologia ao tema, pois também não estou dizendo que amo ser assim – que o digam todas as nutricionistas que já consultei. Mas não me odeio, pois sou assim e, por ser, me aceito. Ontem fui diferente, amanhã posso ser outra, mas hoje, sou assim. Conviver com essas patrulhas estéticas por perto é que não é nada agradável, pois faz você se sentir de outro mundinho.

E faz também que você pense que só pode ser feliz quando for miss... “E eu quero”, como lindamente escreveu e canta Oswaldo Montenegro, “ser feliz agora”! Não amanhã. Quero ser feliz e amada hoje – e quando falo em amor, falo em desejar o bem, preocupar-se com o outro, sentir afeição por outrem.
Encerrando, uma historinha: um dia desses qualquer, meu sobrinho mais novo deu um apertão na minha barriga e disse: “Tia Rô, sua barriga é gorda”. Perguntei a ele se me amava menos por isso. Olhou-me confuso e respondeu rapidamente, querendo se redimir de algo errado que nem sabia que “era errado”: “Não. Mais!” É claro que ele não tem que me amar mais por isso , mas nem menos (Torço para que ele conserve esse olhar!). Assim deveria caminhar a humanidade!

Enfim... são reflexões de uma quarta-feira. Vamos viver a nossa vida, e deixar os outros viveram a sua? Não é tão difícil. Tente.

Ps.: Você sabia que até pouco tempo atrás, um dos então “donos” do evento Miss Universo escolhia pessoalmente cinco das quinze candidatas finalistas? Depois, ele mudou de ramo... Foi ser presidente de uma das maiores potências de nosso mundinho... Precisa invocar o nome daquele que não deve ser pronunciado? É só pesquisar!


Abraços. Seja feliz!

Sustância, que tem origem no latim com a palavra substantia (substância) e significa, dentre outros: a parte mais nutritiva dos alimentos, o que é absolutamente indispensável para a manutenção da vida (sustança), destina-se a reflexões “sustanciais”!

Rosangela Marquezi
Professora de formação e atuação, mas sonhadora de um mundo melhor por opção.

Sobre "Os enredos forçados da vida..."

Assisti, por indicação de uma ex-aluna, agora professora e "dorameira", a série coreana Hae Ryung - a historiadora , do gênero his...