segunda-feira, 13 de março de 2017

Sobre verter...







Do latim “vertere”, a palavra verbo “verter” me dá prazer ao pronunciá-la. Dentre diversos significados, reais ou figurados, gosto de: “fazer ou deixar um líquido transbordar; sair com força ou jorrar; deixar sair de si; desaguar...”

E é em um desses sentidos (ou mais) que me surgiu esse pequeno poema, “Verto”... Em um dia no qual os céus vertiam abundantemente água! 

E como poema apenas se sente, não faço reflexões acerca de “verter”, mas não resisto, ao final, em dar as dicas da Sustância para uma semana prazerosa!




VERTO

                                               Como água que se derrama,
                                               verto!
                                               
                                               Caminhos lisos
                                               Escorregadios e silenciosos,
                                               Sinuosos e macios,
                                               Levam-me a certo/incerto rumo
                                               Dentro em ti.

                                               Como ponto findável,
                                               de um certo veio desconhecido
                                               Que caminhos procura,
                                               para se dar em jorro vertente
                                               Desaguo em mim.

Abraços! Seja feliz!

Rosangela Marquezi
Professora de formação e atuação, mas desaguadora de palavras por opção


DICAS da Sustância


1. Ouça “Água viva”, do eterno Raul Seixas, pois ele conhece [...] “bem a fonte / que desce daquele monte / ainda que seja de noite”!

2. Deleite-se com o poema “Grita”, de Pablo Neruda – e se tiver fôlego recomendo todo o livro “Crepusculário” (1923), que é o primeiro livro de poemas desse magnífico poeta – vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, em 1971. Segue um excerto para dar vontade: “Quando chegares, Amor / à minha fonte distante, / desvia-me as vertentes, / aperta-me as entranhas”.

3. Sonhe em tornar-se um rio com o livro infantil “Uma estrada junto ao rio” (1985), de Marina Colasanti. Nele, Marina nos conta a história interessante de uma estrada que não estava contente em ser estrada... E começa a querer ser o rio que passava próximo... Mas conseguirá ela ser feliz sendo o que não é? Vale a pena a leitura para descobrir!!

4. Leia “Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos”, de Zygmunt Bauman, autor recentemente falecido. Nesse livro, ele fala sobre as inseguranças dos relacionamentos atuais, em que preferimos viver amores na “rede” – podendo terminar a qualquer momento – do que na vida real.  Segundo Bauman, se torna cada dia mais fácil falar “eu te amo”,  sem realmente amarmos... Essa palavra – amor – está perdendo a importância, pois a maioria nem sabe o que sente, e a usa indiscriminadamente.

5. Leia “A morte e a morte de Quincas Berro d’Água”, de Jorge Amado. O livro não é sobre vertentes, nem águas, mas essa relação meio que metafórica de ele morrer de boca fechada para que não lhe entrasse água no corpo – visto que neste só podia entrar cachaça, é muito divertida. Pequeno trecho do livro, em que lhe enganam... 

Sobre o balcão viu uma garrafa, transbordando de límpida cachaça, transparente, perfeita. Encheu um copo, cuspiu para limpar a boca, virou-o de uma vez. E um berro inumano cortou a placidez da manhã no Mercado, abalando o próprio Elevador Lacerda em seus profundos alicerces. O grito de um animal ferido de morte, de um homem traído e desgraçado: – Águuuuua!”.


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