segunda-feira, 10 de abril de 2017

Sobre amores solitários...


Um dia desses, frente a uma taça de um delicioso vinho branco italiano, uma amiga disse: “Vamos fazer um brinde diferente! Vamos brindar aos solitários amores vividos”! Solitários amores vividos... Essa expressão tem peso e verdade. Quem nunca solitariamente amou? Seja algum amor não correspondido, seja algum amor a dois solitário...

Amor não correspondido é muito mais comum. Se eu der uma olhadinha para o passado logo encontro algum perdido em alguma esquina da memória. Lembro até do primeiro... Eu devia ter uns 11 anos de idade e ele era meu colega de escola... Amor de criança, nem era ainda adolescente. Chamava-se Jair. Um dia, chorei no colo de minha mãe falando dele... Ele nem olhava pra mim... Passou. Foi simples. 

Outros vieram... O irmão da melhor amiga da adolescência... Mais velho e que nem olhava pra mim também (Ah... Como o olhar – nesse caso, o não olhar, fala); O Charlie, dos Menudos, meu primeiro crush musical...;  O primo bonito, bem mais velho; O professor de X disciplina, recém-formado, do Ensino Médio... Ultrapassam os dedos para contar... Tantos amores. Com o olhar de agora, entendo que não foram amores... Mas vai dizer isso para aquele coração sofrido de outrora...

Amor a dois solitário é outra história... É muito mais dolorido. Porque você viveu aquele amor. O olhar foi correspondido, mas não da forma como você talvez esperasse. É amor/paixão que entra não de forma sorrateira, mas avassaladora. E você vive e você sonha e você constrói e você chora (Mas você também se recupera!). J.R. era/é seu nome. Era um amor solitário. Hoje, quando penso nele, como nesse momento de escrever essas reflexões, tenho mais certeza ainda disso... Era vivido, mas não compartilhado, não exposto, não retribuído de forma equânime... Eu terminei. Não porque não o amava, mas porque era solitário amar assim. Chorei no ombro de amigas, fiz terapia, esqueci, lembrei, esqueci, lembrei, procurei... E vi que continuava sendo solitário. Então, resolveu-se (E é só em horas de vinho tinto com amigos que ele me vem à memória – ou agora...). 

Outros grandes amores solitários ficaram marcados... Ficaram no tempo... Ficaram na pele... Ficaram na memória... Esvaneceram... Morreram... (?). 

Outros, talvez não com a mesma intensidade desses, podem ser assunto para outro dia...

Reflito sobre isso porque, no momento, tenho tempo... O coração está vazio. E é engraçado ter o coração vazio. Porque é solitário também. O coração, não a vida. Esta é boa, segue em frente, é feliz, é triste, dança, chora, briga, come pudim, bebe vinho. E reflete de vez em quando.


Abraços, seja feliz.

Rosangela Marquezi

 DICAS da SUSTÂNCIA


1. Leia o poema “Só tu”, de Paulo Setúbal, poeta lá do início do Século XX, o qual transcrevo (pedindo perdão por adaptar para o masculino...), para facilitar a leitura:

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram,
Já não me lembro, nem sei...
São tantos os que me amaram!
São tantos os que eu amei!

Mas tu – que rude contraste!
Tu, que jamais me beijastes,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nesta alma ficaste,
De todos os que amei...”

In: “Alma Cabocla” (Moita de Rosas), 1920.


2. Ouça “Are you lonesome tonight?, do Elvis Presley. Porque é linda, e fala de amor e da solidão que este causa. E porque Elvis não morre(u) nunca!

“Is your heart filled with pain, shall I come back again?
Tell me dear, are you lonesome tonight?”


3. Leia “Persuasão”, de Jane Austen. A história de Anne que, jovem, se apaixona por Frederick Wentworth, mas é “convencida” pela família que ele não é a pessoa certa, e que mais tarde retorna para sua vida, celebra a introspecção de uma forma comovente, que nos faz torcer pelo amor.

Seus sentimentos em relação a um primeiro e sólido vínculo afetivo; frases iniciadas que ele não conseguia terminar, seus olhares meio esquivos e sua expressão mais do que um pouco significativa, tudo, tudo afirmava que seu coração no mínimo estava voltando a considerá-la, que a raiva, o ressentimento, o desejo de evitá-la haviam desaparecido, e que tinham sido sucedidos não somente por amizade e apreço, mas pela mesma ternura do passado."


4. Leia “Pássaros Feridos” (1977), da escritora australiana Colleen McCullough, se você quiser realmente entender o significado de amores solitários vividos... A história de amor de Ralph, que é padre, e Maggie é uma das mais bonitas e solitárias... É um romance épico e bem estruturado. Assista: o livro foi transformado em minissérie em 1984 (4 episódios) pela rede britânica ABC e no Brasil passou no SBT, chegando a ultrapassar a Globo em ibope. Ganhou 4 Globos de Ouro e 5 Emmys. A última reapresentação no Brasil foi o ano passado (2016), pela Rede Brasil de Televisão.

Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade do que qualquer outra criatura sobre a Terra. A partir do momento em que deixa o ninho, começa a procurar um espinheiro, e só descansa quando o encontra. Depois, cantando entre os galhos selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E, morrendo, sublima a própria agonia e solta um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro para para ouvi-lo, e Deus sorri no céu. Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sofrimento”.

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